Reciclar para preservar o ambiente: juntos fazemos a diferença

Reciclar para preservar o ambiente: juntos fazemos a diferença

04.06.2024

Escrito por: Ideias que Contam

Levou algum tempo até o mundo perceber que as consequências da produção desenfreada iniciada com o boom da Revolução Industrial no início do século XIX seriam incomportáveis para o planeta, quer em consumo de recursos naturais, quer na poluição do ar, dos solos e dos mares, como ainda na geração de resíduos sólidos. E é sobre estes que este artigo versa. 

Na sequência do Dia Internacional da Reciclagem, que se assinalou a 17 de maio, chamamos a atenção para a necessidade de refletirmos sobre a nossa relação com o consumo e os resíduos que produzimos. Através de pequenos gestos, podemos contribuir para a redução da poluição e do desperdício de recursos, em prol da preservação do ambiente e de uma economia mais próspera.

 

Do linear ao circular

Na natureza nada se perde, tudo se transforma. A conclusão foi do célebre cientista francês do século XVIII, Antoine Lavoisier, após os seus estudos sobre a conservação das massas. Uma lei que, cerca de 200 anos depois, parecia ter sido feito à medida de um novo modelo económico de desenvolvimento sustentável que daria pelo nome de economia circular.
O paradigma da economia linear que usa os recursos para fazer produtos que mais cedo ou mais tarde, no fim da sua vida útil, são descartados, passou completamente de moda devido ao seu impacto no ambiente em forma de resíduo. Pelo contrário, o conceito de economia circular valoriza precisamente esses resíduos, reutilizando-os para lhes dar uma nova vida. Por outro lado, com o “lixo” como matéria-prima, uma boa parte dos recursos naturais são poupados ou reduzem-se ao mínimo durante mais tempo. Emergem, assim, novos modelos de negócio, novos métodos de produção e novos materiais.

 

 

Europa ativa

A União Europeia (UE) tem sido particularmente ativa na persecução de tornar a Europa um modelo de desenvolvimento sustentável no mundo através de legislação que instigue os seus Estados-membros a alcançar esse desígnio. 

 

No final de 2015, apresentou o seu Pacto Ecológico Europeu, um pacote de iniciativas estratégicas que visava colocar a UE na via rumo a uma transição ecológica, com o objetivo último de alcançar a neutralidade climática até 2050. Três anos mais tarde foram adotadas várias alterações das diretivas da UE para nelas incluir metas ambiciosas relativas à preparação para a reutilização e à reciclagem de resíduos urbanos e sua deposição em aterro e à reciclagem de resíduos de embalagens. Os resíduos urbanos representam cerca de 10% dos resíduos gerados na UE, no entanto, são um dos fluxos mais complexos de gerir devido à sua composição diversificada, ao grande número de produtores de resíduos e à fragmentação das responsabilidades atinentes à sua gestão. Uma grande parte dos resíduos urbanos é composta por resíduos de embalagens, que têm um potencial de circularidade significativo.

Em 2020, surgiria um Plano de Ação para a Economia Circular com a pretensão de dissociar o crescimento económico da utilização de recursos e efetuar a transição para sistemas circulares de produção e consumo, medida considerada fundamental para alcançar a neutralidade climática em 30 anos.

Este plano previa alguns princípios de sustentabilidade importantes em matéria de economia circular e reciclagem a serem seguidos pelos países.  As metas exigiam que os Estados-membros tomassem medidas para alcançar um mínimo de 55% de preparação para a reutilização e de reciclagem de resíduos urbanos, 65% de reciclagem de todos os resíduos de embalagens, e metas de reciclagem de resíduos de embalagens específicas por material (75% para o papel e cartão, 70% para o vidro, 50% para o alumínio, 50% para o plástico e 25% para a madeira).

Um relatório da Comissão Europeia apresentado em meados do ano passado concluía, de acordo com a avaliação realizada pela Agência Europeia do Ambiente, que vários países estavam em risco de não alcançarem as metas, com Portugal a ter de fazer esforços acrescidos na reciclagem do plástico, do vidro, do alumínio e dos metais ferrosos.

Para colmatar esta lacuna, a UE propõe a melhoria contínua da recolha seletiva para reforçar o desempenho em matéria de reciclagem com uma percentagem cada vez mais elevada da população abrangida por sistemas de recolha com boa acessibilidade, aplicação de sistemas de consignação, introdução de contentores de recolha seletiva em zonas públicas e comerciais, e aposta na sensibilização.

 

Números que dão que pensar

Se já temos dificuldade em recriar o mundo na Antiguidade, imagine-se pensá-lo há um milhão de anos, aquando da pré-História e dos primórdios da espécie humana. Menos provável ainda é transpor esse período para o futuro. Como será a Terra e os seus ecossistemas? Pois é, investigações levadas a cabo acreditam que esse é o tempo que o vidro levará a decompor-se na natureza. Muito mais do que os já impressionantes 650 anos de uma rede de pesca de fios de nylon, os 500 de uma garrafa de plástico, os 450 das fraldas descartáveis ou os 200 anos de uma lata de atum. Já o da borracha não é possível ainda determinar.

 

Menos poluentes são a madeira pintada, que pode durar cerca de 15 anos; os tecidos de fibras naturais que se desfazem em cerca de seis meses a um ano; e o papel, que é reabsorvido entre 3 e 6 meses.

Estes são números que nos devem fazer refletir sobre o planeta que queremos deixar às próximas gerações, fornecendo-nos razões mais do que suficientes para reforçarmos os nossos esforços na separação seletiva dos resíduos que geramos, depositando-os no local certo para serem reciclados.

 

O jogo das cores

A história do apelo à reciclagem em Portugal está perto dos 25 anos. A primeira campanha televisiva de grande impacto da Sociedade Ponto Verde foi para o ar em 2000. O protagonista, um chimpanzé, não deixou ninguém indiferente. Tão marcante foi que ainda hoje toda uma geração se lembra do anúncio que passou nos pequenos ecrãs e que dizia: “O Gervásio demorou exatamente uma hora e 12 minutos a aprender a separar as embalagens usadas. E você, de quanto tempo mais é que precisa?”.

 

A verdade é que após todos estes anos é preciso continuar a apostar na educação para lembrar que a separação seletiva de resíduos é fundamental para promover práticas sustentáveis de gestão de resíduos e proteger o ambiente. Entre as principais razões estão a redução de resíduos em aterros sanitários, a conservação de recursos naturais, a diminuição da poluição ambiental e da emissão de gases de efeito estufa, e o estímulo à economia circular.

Como fazer? Basta seguir o código das cores dos ecopontos espalhados por todo o país:
Verde: garrafas, frascos e boiões.
Amarelo: embalagens de plástico, pacotes de bebidas, latas e sacos de plástico, bandejas de takeaway e esferovite.
Azul: caixas de cartão, revistas e jornais, papel de escrita e impressão, copos de papel.

Se tem dúvidas, saiba que loiças e cerâmicas, vidros planos, cristais, espelhos, lâmpadas, frascos de medicamentos, outros plásticos que não embalagens, papel vegetal, fraldas, papel sujo, guardanapos, lenços ou toalhitas húmidas, papel plastificado e autocolantes se destinam ao ecoponto dos indiferenciados.

Pilhas, eletrodomésticos (Eletrão), rolhas e óleos alimentares têm os seus próprios ecopontos.

A reciclagem não é apenas uma opção, é também uma responsabilidade compartilhada entre toda a sociedade e implica comportamentos e hábitos individuais e coletivos mais conscientes. Cada um de nós pode contribuir para um futuro mais limpo e sustentável, mas é em conjunto que podemos fazer a diferença e deixar um legado positivo às gerações futuras.